Após ter obra vetada em mostra do Masp, EPPGGs são coautores do livro RETOMADAS, que resgata essa história
Objeto de controvérsia em 2022, quando fotografias e documentos foram impedidos de serem expostos no Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), a mostra RETOMADAS vira agora livro. Os EPPGGs André Vilaron e Atila Tolentino são coautores da obra, junto a Clarissa Diniz, Deise Oliveira, Lucimeire Barreto, Pedro Marco Gonçalves, Sandra Benites e Sônia Fardin. As fotografias de Vilaron, bem como as de Edgar Kanaykö Xakriabá e de João Zinclar, e documentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estão entre os conteúdos vetados na época.
O livro “RETOMADAS” reúne dezenas de documentos, textos, entrevistas e ensaios que oferecem perspectivas críticas e urgentes sobre questões como representatividade, memória social, política cultural, direitos sociais, território, gênero, colonialidade, museus, curadoria, arte, dentre outras. A publicação acompanha a marcha da mostra RETOMADAS, que seria um dos núcleos da exposição Histórias Brasileiras, não tivesse o Masp, dois meses antes da abertura da mostra, impedido as curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites de exibirem alguns dos trabalhos.
Organizado em três blocos — Memória, Debate e Atravessamentos —, o livro explora as discussões do calor da hora e expande suas filiações e problemáticas para além do Masp, orquestrando vozes que se afetam com os embates de seu tempo.
Com o veto, o Masp impossibilitava a autorrepresentação dos sujeitos históricos das lutas que emprestavam não só título ao núcleo curatorial, como, fundamentalmente, o dotavam de sentido social e político: a retomada dos territórios ancestrais dos povos originários e a reforma agrária que, no Brasil, tem o MST como ícone.
Em reação, as curadoras optaram pelo cancelamento da RETOMADAS. O que se seguiu foi um grande debate público que, contando com o apoio e a mobilização de grupos e pessoas diversas, forçou o Masp a retirar o veto e, assim, realizar a RETOMADAS. Assim, atendeu também a algumas das proposições de reparação em relação à violência produzida pelo Museu, contra os artistas, as curadoras e, de modo mais amplo, contra os movimentos sociais e as lutas populares em curso no país.
“Este livro relata e debate uma batalha vitoriosa no campo das práticas culturais contra-hegemônicas. Quando a classe trabalhadora vence uma luta contra o capital, isto se dá pela articulação organizada e coletiva de sua diversidade de sujeitos e pelo acesso ao acúmulo de conhecimentos produzidos em suas trajetórias [...] Tem como objetivo documentar, publicizar e, principalmente, debater uma experiência coletiva de enfrentamento às práticas institucionais que silenciam e criminalizam indivíduos, grupos e organizações populares que agenciam lutas pelo direito à terra, à moradia e à memória”, destacam trechos da apresentação da obra.
Publicado pela Editora Expressão Popular em 2025, o livro pode ser baixado mediante contribuição espontânea ou adquirido na versão impressa a R$ 70,00 no site da editora.